sexta-feira, 27 de março de 2009

sORRISO

Ele nunca levantou a voz para ninguém; nunca brigou. Sempre teve muitas pessoas ao seu redor, mas elas eram mais uma muralha que apoio moral. A culpa era dele e sempre foi.

- Se ao menos... se!

Se eles soubessem... Odiava muita coisa e muitas pessoas, mas tanto as coisas, como aqueles corpos inanimados, estavam sempre presentes, grudados, acoplados em seus membros superiores. Se possível fosse, ele cuspiria naquelas coisas.

As pessoas, ele mutilaria.

Em uma dia comum – porque tudo na vida dele era comum – as coisas o diminuíram e os corpos esbeltos o ignoraram. Pensou ele um dia ter mania de perseguição, mas semanas depois ele percebeu que era realmente perseguido: fez com as coisas e as pessoas o mesmo que elas o faziam; o ignoravam. Ele também ignorou. Mas essas coisas mortas e teóricas, rotuladas, defasadas, mastigadas, renovadas, recicladas (mas nunca recicláveis), pós-modernas, fakes... só existiam se ele as desse valor. O que seriam dessas coisas se o sentido da vida delas virasse à esquerda? Então elas o perseguiram; o perseguem.

E os corpos das pessoas?

Só há belos se o feio assim concordar; só há maestria se o discípulo assim a mantiver; só há ídolos se o fanático continuar aplaudindo. Ou seja, as pessoas são coisas com artérias e cérebros em desuso.

E quando ele percebeu isso, sorriu. Enganou as coisas e as pessoas.Ele continua o mesmo “comum” de sempre, só que agora com um sorriso falso, que camufla todas as rugas da testa e dos cantos da boca. Ele não é aquelas coisa, tampouco aqueles corpos. Mas é falso [consigo mesmo].