sexta-feira, 29 de maio de 2009

...lalala [não]

Quem nunca acumulou palavras no esôfago?
E elas vão se acumulando
Incomodam, ocupam espaço
Não pagam o aluguel, mas usufruem do espaço como bem entendem
São batidas de músicas frenéticas
Pulsam querendo estar no mais alto decibel

As palavras surgem como os primeiros acordes da música
Vão nos envolvendo até nos prenderem numa teia de vírgulas
As vírgulas comuns se transformam em pontos e vírgulas
É só chegar ao refrão que notamos que as linhas do caderno acabaram
E não há portfólios que deem jeito

"Eu te odeio"
"Te mordo"
"Compra para mim"
"Você não é mais necessário"
"Eu só queria que você morresse por hoje"
"Putz, te amo"

"Transa comigo agora!"


...mas as backings vocals cantam mais alto nessa estrofe

segunda-feira, 11 de maio de 2009

50% menos mãe?

Salve a tecnologia! A minha mãe me pediu para que eu copiasse na minha impressora/scanner/copiadora o laudo fisiológico da mama dela. Faz algum tempo. Eu até pensei em postar algumas coisas no blog, mas eu não conseguia. Eu só consigo escrever textos e poesias quando penso no título ou em algumas frases antes de conceber a obra inteira. Obviamente eu consegui pensar em palavras que me eram agradáveis, mas a situação em que eu escrevia e sobre o quê eu escrevia não eram. Então deixei para lá.

Mas ontem, a minha mãe me pediu para que eu copiasse o laudo. Enquanto eu ligava a impressora, ela perguntou:
"Não quer ler?"

Eu diria:
"Não, obrigado!"

Mas seria frio. Seria insensível da minha parte mostrar desinteresse. Na verdade não era desinteresse, mas sim algum tipo de medo. Enfim, eu comecei a ler sem pronunciar nenhuma palavra. Foi horrível.

Uma texto de dois a três parágrafos que dizia de forma técnica que o tumor tinha tamanho tal, com circunferência tal, e o tecido era de cor castanha, assim como o mamilo que foi extraído, que a massa do seio era X... Um texto mais frio que que a minha possível resposta. Não me cabe julgar a Medicina, até porque, eu como acadêmico, sei como é importante a linguagem técnica-científica. Mas nem mesmo uma barra metálica exposta a um corpo de temperatura menor que 0º Celsius seria mais frio. Tudo isso para dizer que a minha mãe teria que extrair o seu seio esquerdo, uma parte do corpo tão importante para uma mulher, um símbolo da feminilidade. Hoje ela tem apenas um seio. Ontem foi dia das mães. Será que ela se sentiu um pouco menos mãe? Ela me disse uma vez que se sentia triste na época em que era lactante, pois o seu mamilo não permitia que eu sugasse seu leite direto no seio. E agora que, além do mamilo, ela não tem um seio esquerdo inteiro?

Feliz Dia das Mães, mãe!
Te amo muito, viu?