domingo, 26 de julho de 2009

Ele fez tudo o que pode

Esta é a cena:

Pisando na lama, descalço, restos de "baseados". Ele estava moído. Sofreu na noite anterior. Foi uma noite de risos e muito suor. Mas o que se seguiu parecia tão incerto quanto [...]. A venda, que antes estava nos olhos, agora estava amarrando todo o corpo, pois ele cambaleava. Não só cigarros, mas garrafas, copos, camisinhas e mais lama. Para sair do buraco onde se encontrava, ele teve que se curvar e tatear a terra úmida, "engatinhar", "ficar de quatro".
Quem o conhecia, não o reconheceria. Estava ele com a calça caindo, um sol escaldante e os tênis brancos, que não combinavam com toda aquela folia, pendurados pelos cadarços. Vagou só.
Ele queria voltar, mas parecia distante. Ele queria gritar para o mundo, mas parecia rouco. Ele queria sorrir, mas os dentes estavam trêmulos. Mas como o buraco parecia convidativo, voltou, mesmo que a distância o impedisse. Não se arrependeu, por fim.
Mas, o que o mundo o reserva agora parece maior e mais quente que aquele buraco tão confortável e acolhedor. "Onde comem dois, comem três!". Se pudesse, ele permaneceria na lama, mesmo com tênis brancos. Mas o ônibus era inimigo dele e inimigo de uma noite inesquecível.
Ele pegou um guardanapo e, com uma caneta de cor marron, escreveu:

Helicoidal
Tudo gira
converge
se ergue
bate
volta
insiste
Tudo doi
tudo passa
tudo gira
e tudo goza
Mas, assim como a forma helicoidal
tudo vai
mas não volta

Ele lamentou que "não volta".