sexta-feira, 5 de setembro de 2008

aMANHÃ...


Se eu perguntasse a qualquer pessoa como ela gostaria de morrer, certamente eu escutaria "Ah, dormindo". Com efeito, dormindo é a forma com a qual todos desejam ir daqui. Daqui. Mas talvez não fosse melhor saber que morreríamos há 2 meses, por exemplo? Ou pelo menos ter uma previsão de quando falecer? É macabro, eu sei, mas talvez se soubéssemos com antecedência, aproveitaríamos mais o resto de ar atmosférico que nos circunda. Pensem bem. Nos programaríamos para realizar coisas das quais sempre tivemos vontade de fazer que não tínhamos coragem. Daríamos valor as pequenas coisas, porque saberíamos que não teríamos mais acesso a elas. A luz baixa do nosso abajur antes de cerrar os olhos, aquele bigodinho de leite que fica no nosso buço, o "Vem que horas?" escutado pelo telefone em uma voz materna, o cheiro de roupa limpa, o tapinha nas costas de um amigo, aquela joaninha que pousou na nossa mochila durante o lanche, as visões através da janela do ônibus... Tem tanta coisa que a gente não dá valor. Só quando perde. Morrer dormindo tem a vantagem de não se sentir dor, agonia ou ansiedade intensa. Mas já imaginaram morrer no dia seguinte em que você teve uma briga feia com a namorada ou namorado? Ir embora sem pedir desculpas, mesmo que você não seja o culpado ou culpada. Ir sem dizer adeus. Ir sem dizer que vai esperar pela pessoa amada. Piegas? Muito piegas. Extremamente piegas. Mas já imaginou ir sem dizer "Eu te amo!"?



Se eu gostaria de saber quando vou morrer?


Resposta: "Não, sou muito covarde para isso!"




Mas alguém, em algum lugar, alguém que não conheço e de quem nunca ouvi falar foi embora no embalo do sono.




Hoje, sexta-feira, 5 de setembro de 2008, eu fui cortar o cabelo. A cabeleireira passava a máquina na minha cabeça enquanto conversava com um amigo. Dizia ela que o Sr, Fulano de Tal havia morrido hoje, dormindo.

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