sexta-feira, 30 de maio de 2008

mAIS UM POUCO DE PELE



comeria um boi inteiro
vísceras frescas
ruminaria
se assim fosse preciso
faria dos chifres, meu troféu
dos cascos, meus tamancos
sugaria seu sangue quente
babado eu ficaria
de tanto morder seus dentes

comeria uma baleia azul inteira
óleo que percorre seu corpo
chuparia sua gordura indecentemente
nadaria em suas artérias
mordiscaria seu estreito esôfago
procuraria plânctons em seus dentes
se assim tu desejasse

comeria um ornitorrinco inteiro
iria eu até a Austrália ou Tasmânia
faria dos esporões venenosos, palitos de dentes
usaria seu bico como pires
soletraria Ornithorhynchus anatinus
chocaria seus ovos na praia
se assim necessitasse

mas não me peça para não ser eu
não me negue a intimidade
"intimista" é o que me define
não me peça distância
não conheço a latitude e a longitude da tua casa
não saberia voltar sem as migalhas de pão
mais um pouco de pele-tua
é só o que peço
rogo-te em nome desse desespero
peça-me tudo o que Freud explica
mas não forje em mim a solidão



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